domingo, 23 de setembro de 2012

 
 
 
      ÉBANO IMORTAL
 
Sou obrigado a viver sobremaneira o engano proposital.

Pois...

Eu sou o GUERREIRO...

Meu clamor calado triste e marcado

é mais do que o grito mudo,

que o mundo não escutou

em brados das dores das almas.

O sulco da terra ancoradouro

de corpo inerte e entorpecido.

E o meu verdadeiro bradar se estabelece

até  quando os deuses amorfos puderem escutar.

Estremece o chão e num grilhão

capilares condutores arenosos

 se arqueiam e atravessam as rochas

 chegando no ancoradouro do peito.

Em ínfimo ritmo... Não mais são retumbantes.

 

É o morto de inanição que vai jogado ao mar.

 É navio da África que o vento traz.

 

Não me obrigue de maneira alguma viver a ausência de hipocrisia.

Pois...

Eu sou o SENHOR...

Se meu corpo é jogado em poltrona aveludada,

 estofado brilhante como a dos czares.

Se me afundo é num mundo

em que sou o superior da hora

resultado de estupendo lide opressor,

 sim sou eu o agressor que carrego o mérito

de grandioso, de superior.

Sou autodidata em promover a dor.

Com meus gritos fortes me faço

de qualquer um de vocês o senhor.

Plantem, colham e se recolham nas senzalas,

qual é o lugar dos oprimidos sem sangue real.

 

É  gente chicoteada,

é alma pura levada ao ar.

 

Não me obrigue de maneira qualquer viver a mentira.

Pois...

Eu sou o POVO...

Decretou-se em muitos países a simbólica misericórdia,

que não chega aos pés de ato bravura,

somente substituiu-se o formato da espoliação.

O mundo não verá o apogeu dos vencidos, e daí?

Se a vitória tem suas facetas.

Na busca da verdadeira glória

as conquistas serão sempre do fraterno amor.

 E no ardor de ser livre... Se desescravise

desses quaisquer com poder mentiroso,

ofensivo e corruptor.

 

E o homem se vestiu de blues.

Desde a Georgia até o Quilombo dos Palmares.

E o homem se cobriu de samba.

Se esculpiu de bamba...

E Zumbi estará sempre aqui...

Nestes  quadriláteros quilombos metropolitanos.

 

 

 

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